Astrónomos fizeram simulações e dizem que há um planeta gigante para lá de Plutão. Agora só falta vê-lo
Um nono planeta no sistema solar, muito para lá de Plutão? Primeiro, os astrónomos Mike Brown e Konstantin Batygin, do California Institute of Technology (Caltech) ficaram muito, muito céticos. Era para aí que apontavam as contas de Chad Trujillo e Scott Shepperd, dois jovens pós-docs que em 2013 estavam na equipa de Brown, mas claro que não podia ser. Ou podia?
Espicaçado pela curiosidade, e mais para rebater a ideia do que para tentar validá-la, Brown propôs a Batygin que olhassem ambos melhor para os dados. E depois de ano e meio de simulações computacionais e de muita física e matemática acabaram por descobrir aquilo de que não estavam à espera. Tudo indica que existe um nono planeta no sistema solar, que será 10 vezes maior do que a Terra e que orbita o Sol a uma distância 20 vezes superior àquela a que está Neptuno da nossa estrela: 4,5 mil milhões de quilómetros. O Caltech anunciou hoje a descoberta.
As contas estão feitas e agora só falta encontrar esse planeta, cuja dimensão o salva de se ser um planeta-anão, a etiqueta que se colou a Plutão e a todos os objetos que orbitam para lá dele, naqueles confins gelados do sistema solar.
Embora ainda não tenha sido observado diretamente, Mike Brown e Konstantin Batygin publicaram os seus resultados na revista Astronomical Journal e batizam como Planeta Nove o novo objeto que emerge das suas equações e simulações.
"É verdadeiramente um nono planeta", assinala Mike Brown, no comunicado do Caltech. "É um pedaço bastante substancial do nosso sistema solar que está aí à espera de ser descoberto, o que é muito entusiasmante", sublinha o investigador.
Uma pergunta tem, no entanto, de ser feita - e os dois astrónomos fazem-na. De onde sai agora, assim de repente, um planeta gigante, a orbitar o Sol, muito para lá de Plutão?
Para responder à questão, Mike Brown e Konstantin Batygin contam a história do sistema solar com uma única e subtil mudança em relação à tese hoje consensualmente aceite pelos astrónomos. Nos primórdios dos sistema solar, em vez dos quatro núcleos planetários que vieram a dar origem aos gigantes gasosos Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno, haveria cinco desses núcleos, e o quinto, que terá dado origem ao planeta Nove, se se tivesse chegado demasiado a Júpiter e a Saturno teria sido ejetado por ambos para as paragens distantes onde agora Mike Brown e Konstantin Batygin dizem que ele se encontra.
Os dois astrónomos, sublinha o comunicado do Caltech, continuam a refinar as suas simulações para compreender melhor este planeta e os efeitos que ele produz nos outros objetos na região do sistema solar onde se encontra e a outra busca, a da sua deteção direta com alguns dos maiores telescópios do mundo, como o de Mauna Kea, no Havai, também já se iniciou, liderada por Mike Brown.
"Adoraria encontrá-lo", diz o investigador, sublinhando, no entanto, "que será bom na mesma se ele for encontrado por outros". A publicação do artigo com o anúncio do planeta Nove tem, de resto, exatamente esse objetivo, afirma Brown. "O que esperamos é que outras pessoas se sintam inspiradas e comecem a procurar também".