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'Poderá ser vida Jim, mas (talvez) não como a conhecemos.' Esta não é somente uma frase vinda da ficção cientifica, mas também uma frase que alguns cientistas planetários proferem em resposta à descoberta de metano na atmosfera de Marte. Correcto - os cientistas acreditam que algum tipo de forma de vida microbiana em Marte, presente ou passada, pode ter produzido o metano. Enquanto está longe de ser a única explicação possível, é na realidade tão plausível que uma missão especial está a ser enviada para lá de modo a tentar descobrir a verdade.
A primeira parte do que poderá ser uma série de missões - A ExoMars Trace Gas Orbiter da Agência Espacial Europeia - lançada a 14 de Março de Baikonur no Casaquistão.
Muitas possibilidades
A missão é um orbitador que irá traçar um mapa de gases na atmosfera de Marte, ao longo de um ano marciano inteiro (dois anos da Terra). Claro que o metano na atmosfera não tem de vir de vida microbiana, poderá também ser causado por poeira cósmica ou processos geológicos. A ExoMars irá testar processos geológicos actuais que poderão estar a libertar o metano.
Se tudo correr bem, esta missão será seguida de um mais ambicioso ExoMarsRover, desenhado para testar amostras de vida antiga, que será lançado após 2018. A primeira proposta de observação de plumas de metano em Marte foi feita há mais de uma década, a partir da Terra. Os dados necessitam de uma grande quantidade de processamento e levaram à controvérsia entre os cientistas planetários.
De acordo com o nosso entendimento actual sobre a atmosférica química, o metano em Marte deve ser destruído relativamente rápido (numa ordem de algumas centenas de anos). Isso significa que é um gás que não deveríamos estar a ver em Marte - a menos que exista algum processo activo a criá-lo ou a soltá-lo. Na Terra, a maioria do metano na atmosfera vem de organismos biológicos, que levantam a questão sobre se Marte poderá abrigar vida - passada ou presente.
O orbitador está unicamente desenhado de modo a mapear os constituintes da atmosfera Marciana (como o metano), usando um conjunto de espectroscópios altamente especializados e instrumentos de imagem. Os espectrómetros, que podem analisar a composição de um gás, medindo os comprimentos de onda específicos que são absorvidos, são a chave para a medição de metano e de outros gases. A mistura relativa dos gases observados, juntamente com a sua medição, poderá ser comparado com medições realizadas na Terra de modo a providenciar pistas sobre como a origem do metano poderá ser geológica ou biológica.
A nave irá chegar a Marte em meados de Outubro. A primeira coisa que irá efectuar será uma demonstração tecnológica, o módulo de descida Schiaparelli, de modo a provar que a Europa poderá com sucesso atingir a superfície de Marte. O módulo irá providenciar alguns dias de medidas meteorológicas de superfície, durando tanto quanto as baterias no módulo permitam.
Entretanto, o orbitador irá iniciar manobras de modo a colocar-se numa órbita circular. Irá utilizar um processo de travagem livre de combustível denominado 'aerobraking' (aerotravagem - de algum modo, um incrível conceito da utilização do topo da atmosfera de modo a usar a fricção das moléculas gasosas para abrandar). Esta será mais uma estreia para a Europa, efectuando esta manobra perigosa à volta de Marte.
O que fazer se encontrarmos vida?
Então o que fazer se soubéssemos que existe vida microbiana em Marte, ou que existiu vida no passado? Bem, só iria desafiar tudo aquilo que sabemos. Teríamos de assumir o não termos um estatuto único no Universo e teríamos também de trabalhar sobre como incluir a 'vida' extraterrestre na nossa existência ou crença religiosa - só para nomear alguns.
A um nível cientifico, está muito em jogo. Claro, iria levar a novos esforços na procura de vida em planetas para lá de Marte e até para lá do nosso sistema solar.
O primeiro desafio, se a vida alguma vez for detectada, será provar que não a levámos da Terra - uma tarefa difícil de atingir. Catalogando com cuidado a carga 'de fardo biológico' da nave e das salas livres de vida microbiana em que foi montada, poderá providenciar uma verificação sobre que organismos poderão estar presentes na nave quando saiu da Terra. Fundamentalmente dura, a vida que surgiu para lá da Terra, seria provavelmente o resultado de subtis e diferentes processos químicos. Então, de modo a ter a certeza, análises bioquímicas no local iriam ser requeridas.
As implicações para a futura exploração do sistema solar são também profundas - actualmente, temos muito cuidado em não contaminar áreas que são consideradas 'regiões potenciais de relevância para a vida', sabendo com certeza que a ela está presente, iremos impor ainda mais necessidade de limpeza para qualquer exploração futura. A este respeito, mantém-se um debate interessante para o futuro: devemos manter a exploração humana de um mundo que se sabe tem vida?
Mas mesmo que não encontremos vida, os benefícios são imensos. Ousadias como o orbitador ExoMars ensinaram-nos a ultrapassar um sem número de desafios tecnológicos, como a miniaturização de instrumentos sofisticados e um desempenho técnico melhorado, que sustentam igualmente muitos aparelhos que usamos no nosso dia-a-dia. As competências desenvolvidas são igualmente de importância extrema.
Construir uma nave dessa complexidade requer competências técnicas, 'software' e habilidades criativas que são directamente aplicáveis a muitas e diferentes industrias e vocações. Puxando os limites do que é tecnicamente possível atingir, ciência inovadora é o que espoleta os saltos que nos irão levar mais à frente.